segunda-feira, 17 de novembro de 2014

MENINO DE RUA


MENINO DE RUA: Ai tio me desculpa incomodar,
Me arruma uma moeda pra lanchar.
Pelo amor de Deus que tá no céu,
Tenho sofrido como um réu.
Noites em claro desejando morrer,
O frio que me consome,
Só o jornal pra me aquecer.
Eu me pergunto por quê?
Se eu não pedi pra nascer.
Dizem que a criança é o futuro da
nação,
E que toda estrela faz parte da
constelação.
Eu sou a estrela solitária,
Que nunca foi amada.
Sem sorriso no Playground,
Presenciando a maldade,
Sem felicidade no Danone,
Reservado a maus tratos e fome.
A calçada que você cospe é meu
colchão,
A luz do poste é meu holofote,
Minha iluminação.
A chuva é o meu chuveiro,
A pedra meu travesseiro,
Num calor infernal,
Água de esgoto,
Vira água mineral.
CIDADÃO: Perai moleque e os seus
pais onde estão?
Será que estão perdidos na multidão?
Centro da cidade é um formigueiro
Gente pra lá e pra cá
O tempo inteiro.
MENINO DE RUA: Meu pai nunca
conheci,
Minha mãe não me lembro de existir.
CIDADÃO: Mas onde você mora
criança?
MENINO DE RUA: Onde não existe
esperança!
CIDADÃO: De onde você vem?
MENINO DE RUA: De onde não reside ninguém!
Eu ando sem destino,
Perdido e sozinho.
Talvez eu chegue até os 10,
Se antes disso eu não amanhecer
Amarrado pelos pés,
Num viaduto,
Ninguém vai ficar de luto.
Vão me enterrar como um indigente,
Sociedade indiferente,
Que tortura a gente.
Isto é, se não me deixarem ao relento, 
Fedendo.
Servindo de comida pros urubus,
Tentando enxergar Deus na imensidão do céu azul.
CIDADÃO: Esse moleque
Sobrevive sem o assistencialismo da UNICEF,
Sonha com um chiclete,
Recebe um tabefe.
Te pede a mão,
E você dá um canhão.
Te pede ajuda,
E você empurra,
Rumo à imensidão
Da escuridão.
A criança está crescendo,
E se sobreviver,
Vai aprender como você,
Maltratar o próximo,
Resultando em óbito.
Alberto Ativista, escritor e poeta.

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