quarta-feira, 14 de outubro de 2015

CHICOS E FRANCISCOS

Chico mora nos bairros de lata da vida, Francisco mora num apartamento à beira-mar. Ambos nasceram no mesmo pedaço de chão, mas não nas mesmas condições de subsistência.
Chico tem ascendência de ex-escravos, Francisco ascende de famílias europeias que fizeram fortuna por aqui. Chico anda de chinelo, Francisco usa sapato social. Chico usa como ferramenta de sobrevivência à enxada, Francisco usa a política. O que eles não sabiam é que o destino um dia os colocariam frente à frente no momento mais importante de suas vidas.
Era 24 de dezembro do ano de 2014 depois de Cristo, às 23:00 hrs. Francisco desfilava em meio a neblina com seu belo Porsche Cayenne comprado com desvios de recursos públicos da Copa de 2014, no banco de trás vários embrulhos, presentes de natal. Já Chico coitado, andava cabisbaixo, pois não tinha uma moeda se quer para comprar um presente para o seu unigênito que dia 25 faria 7 anos. Isso atormentou Chico nos últimos 24 dias.
Desesperado, Chico pegou o velho calibre 38, empoeirado, que herdara do seu pai. Até então, nunca precisou usá-lo. Estava decidido, ia assaltar uma loja, qualquer loja para dá um presente natalício ao seu filho. Francisco que dirigia tranquilamente com o vidro abaixado, uma mão no telefone celular, e outra no volante, sorridente... Sinal vermelho logo à frente, Francisco reduz. Chico observa aquele belo carro, percebe a distração do motorista, e dá o bote! É um assalto, passa a grana! Francisco aterrorizado diz não ter dinheiro, foi quando Chico notou os embrulhos no banco de trás, e não pensou duas vezes, foi pegar os presentes.
Chico não é perito em assaltar, aliás, era seu primeiro assalto. Inocentemente colocou o revólver na cintura e virou às costas para Francisco enquanto pegava os presentes. Não deu outra, Francisco puxou o revólver da cintura de Chico, mas antes que pudesse atirar Chico partiu para cima, e uma luta corporal se iniciou. Rolaram de um lado para o outro da pista, foi quando Francisco disparou três vezes contra o peito e o abdômen de Chico. Em poucos segundos Chico já estava morto. Francisco ainda comemorava quando um carro em alta velocidade o atropelou pelas costas, foi morte instantânea. O carro perdeu o controle e bateu adiante. Eram criminosos que fugiam da polícia.
Nessa tragédia, apenas Chico e Francisco morreram. Um porque queria presentear seu filho, outro porque estava acostumado a assaltar o dinheiro público, não a ser assaltado. Morre o pobre, morre o rico também, porque pau que dá em Chico, tem que dá em Francisco.
Alberto Ativista, escritor e poeta.

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