quarta-feira, 30 de abril de 2014

ACONTECEU EM ALGUM LUGAR...

Um homem extremamente preconceituoso acabara de se casar.
Rústico, durão, inculto. Características fundamentais de um macho alfa. Abominava de tal modo a homossexualidade que chegava a ter surtos quando via um gay.
Três anos se passaram, e a notícia esperada “estou grávida” dizia sua esposa. Alguns meses depois a confirmação “é menino”.  Menino macho, redundantemente completava o pai. Tudo que ele mais queria, um macho, mais um alfa para abrilhantar a família.
Anos depois... A criança crescera, comunicativa e sempre rodeado de amiguinhas, e o pai se gabava dizendo “pegador desde pequenino”.  Mais algum tempo e o menino já era adolescente, 15 anos. Certo dia, seu pai chegava do trabalho na oficina, as 20:00hrs como de costume. Fedido, barbado, dá um beijo na esposa, que logo percebe que ele estava alcoolizado como sempre.
Pergunta por seu filho, a esposa diz que ele está no quintal fazendo a lição do colégio com um amiguinho.  O pai vai até o quintal para ver como anda a lição, e quão grande é sua surpresa, surpreende os dois garotos se beijando. Parece um pesadelo, um filme de terror. “Meu filho, não ele. Devo está bêbado de mais” pensava o pai.
Aproxima-se lentamente, e não há mais dúvida. O pior cego é que não quer ver.
Se enche de fúria, e vai em direção aos meninos gritando “traidor safado”, o amiguinho conseguiu escapar. A esposa sem entender nada se aproxima, e observa um homem que mais parecia um animal selvagem quando caça a presa. Intercede na tentativa de evitar o inevitável. Era tarde de mais.
O maior, o mais velho, macho alfa, bofetadas e mais bofetadas. Bate a cabeça do garoto no chão com tanta força que rapidamente o chão se encharca de sangue. Por fim, pega sua velha faca, inseparável que levava até para a oficina, e disfere o golpe fatal na garganta do rapazinho, sem chance, jaz o menino.
Sua própria esposa chama a polícia. Quando os homens da lei chegam, lá estava o macho alfa, imóvel, ileso, e sua cria estirada e sem vida.
A polícia prende o assassino. Não sei como foi o julgamento, não sei quantos anos ele pegou, o que eu sei é que não recebeu visita nenhuma, e passou a ser violentando por outros presos, ano após ano. Dizem que o tempo cura tudo, e que aqui se faz, aqui se paga. De tanto ser violentando, passou a gostar daquilo, se tornara normal, cotidiano.
Dizem que hoje ele é a mocinha da prisão, o arroz com feijão, o café da manhã dos encarcerados.
Alberto Ativista, escritor e poeta.

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